De olho nos produtos de alto risco
No contexto de competitividade e margem de lucros apertadas, as perdas no varejo alimentar acentuam os prejuízos do setor. De acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), os rombos ultrapassaram R$18 bilhões. No setor, 80% das perdas não identificadas são causadas por furtos nos Produtos de Alto Risco (PAR) e o restante refere-se a falhas nas operações, como erros na contagem dos produtos. Por causa disso, esta categoria merece atenção redobrada a fim de diminuir os prejuízos no varejo alimentar.
Os Produtos de Alto Risco são mercadorias que tem alto valor agregado, revendidas facilmente ou usadas para consumo próprio, e de pequeno porte – o que facilita o manuseio e o furto. Por exemplo: lâminas de barbear, protetor solar, cigarros, pilhas, smartphones e eletrônicos, chocolates, bebidas gerais e alcoólicas como destilados e vinhos, azeites, carnes e queijos. No entanto, os PAR variam de acordo com a regionalidade e a sazonalidade.
“Em uma mesma rede, uma loja pode ter um grupo X deles e em outras localidades outros produtos nesta categoria”, comenta o presidente da Associação Brasileira de Prevenção de Perdas (Abrappe), Carlos Eduardo Santos. Além disso, em diferentes épocas do ano, como o Carnaval e a Páscoa, produtos como bebidas alcoólicas e chocolates respectivamente são ainda mais visados para furtos.
Ele reforça que o inventário – checagem do estoque físico com o digital – é a palavra-chave para ter o conhecimento de quais são os PAR daquele estabelecimento. Dessa forma, existem dois tipos de inventários: o geral – que checa todos os produtos – e os rotativos – que fazem a checagem em um número específico de produtos ou seções. A periodicidade da contagem do estoque irá variar, também, de acordo com a necessidade do mercadista.
“A depender do caso, o inventário tem que ser periódico, porque se eu tenho produtos furtados todos os dias, se eu fizer um inventário semanal terei perdido produtos para caramba”, diz o presidente da Abrape. Portanto, a lista de PAR personalizadas é o primeiro passo para o enfrentamento da problemática.
O que fazer
É necessário investir em tecnologias e treinamentos constantes dos funcionários para lidar com situações imprevistas e delicadas, pois dependendo do desfecho da situação pode ocorrer graves violações dos direitos humanos e prejuízos financeiros (em caso de indenização por danos morais) e a imagem do supermercado.
Logo, a abordagem dos suspeitos de furtos deve ser feita de maneira discreta e fora do caixa. Nestes casos, os colaboradores devem avisar os agentes de segurança que só poderão interpelar o autor após a passagem pelo pórtico de segurança ou linha do caixa. Depois disso, é possível solicitar à pessoa para esvaziar os bolsos, sacos ou mochilas. Mas somente com a autorização dela que os seguranças podem revistá-la.
Confirmado o fato, a decisão ou não de chamar a polícia irá variar de caso a caso. Se o produto for de pouco valor e o indivíduo estiver em situação de vulnerabilidade social é plausível deixá-lo sair com o produto. Já se for uma mercadoria de alto valor agregado ou a situação com aquela pessoa é reincidente é preferível chamar a polícia.
Vale ressaltar, portanto, que não é permitido insultar e/ou ameaçar o suspeito do delito, abordar antes dele passar pelo caixa e revistá-lo sem a sua autorização. A abordagem segura não deve ser confundida com desrespeito e violações dos direitos humanos.
Prevenir é o melhor remédio
Portanto, a prevenção é a melhor alternativa para desestimular e coibir esse tipo de situação e evitar grandes dores de cabeça para o varejista. Na seleção dos trabalhadores é necessário realizar a capacitação e entregar um manual de conduta que esteja bem alinhado com os valores e práticas da empresa. É fundamental, também, praticar constantemente cursos e treinamentos para os líderes e colaboradores a fim de estar em constante atualização sobre o assunto.
Outra grande aliada é a tecnologia que desestimula os delitos e ajuda na identificação e obtenção de provas, como sistema de alarmes de acessos, monitoramento de frente do caixa e sistemas de circuito fechado de TV são boas opções – em especial em pontos estratégicos dos produtos de alto risco. Essa categoria pode contar, também, com as etiquetas antifurto que disparam o alarme quando passam pelos sistemas de segurança na saída da loja.
Além disso, a conferência dos recebimentos dos produtos de alto risco deve ter atenção redobrada e ser realizada no momento da entrega e, se possível, com câmera de vigilância. O estoque deve ser restrito a poucos funcionários e com monitoramento de vídeo. A exposição dessa categoria de produtos, também, deve estar em pontos estratégicos a fim de facilitar a visualização em casos de possíveis furtos tanto para as câmeras quanto para os colaboradores.
Perdas Identificadas
Já esta categoria, em sua maioria, refere-se aos Produtos de Alta Quebra (P.AQ) que têm características com a perecidade, alto giro e manuseio pelos fornecedores e consumidores, como os setores de Frutas, Legumes e Verduras (FLV), de açougue e padaria. Logo, os amassos, as pragas e os vencimentos inviabilizam a vendas dos alimentos. Além disso, entre os principais motivos para a avaria dos produtos estão a temperatura inadequada e a forte iluminação que estimula a maturação da mercadoria. E, também, a falta de higienização adequada que fomenta a vinda de pragas.
“São cuidados diferentes para cada categoria. As carnes, em geral, incluem tanto peixe, como frango, carne bovina e bubalina tem que ser mantido o frio e cada produto tem a sua temperatura específica”, comenta o consultor da Associação Paulista de Supermercados (Apas) para assuntos relacionados à segurança dos alimentos e sócio-diretor da Master Key Consulting, Alexandre Panov Momesso.
Outra problemática é o armazenamento incorreto dos alimentos, que quando colocados um em cima do outro amassa e não oferece espaço para a ventilação adequada.
Além disso, o excesso de mercadoria no estoque, e o manuseio incorreto dos produtos pelos funcionários e – principalmente pelos consumidores – provocam desperdícios no varejo alimentar. “Se você não tem essa prática de separar produtos bons e ruins, quem separa é o consumidor. E aí quanto mais ele manipula, mais quebra”, comenta Carlos Eduardo Santos, da Abrappe. Portanto, uma boa exposição com a padronização dos produtos nas gôndolas desestimula a manipulação pelo cliente, e, consequentemente, a avaria da mercadoria.
DICAS PARA PREVENIR FURTOS
Saiba quais são os PAR do seu estabelecimento
Invista em tecnologia como etiquetas antifurto e sistema de vigilância
Capacite os funcionários para lidar com possíveis furtos
Produtos de Alto Risco mais comuns:
Cigarros
Bebidas alcoólicas
Bebidas em gerais
Carnes
Chocolates
Pilhas
Eletrônicos
Celulares
Protetor Solar