O varejo alimentar como motor de mudança
Virgínia Galassi é primeira-dama da Abras, empresária, embaixadora do Prêmio Dove Mulheres e Amigos do Bem. Nesta entrevista, ela comenta o papel essencial do varejo alimentar na construção de um futuro mais sustentável e socialmente responsável. E aborda ainda o avanço da participação feminina nos cargos de liderança do setor nos últimos anos.
Você é empresária, mãe, esposa, primeira-dama da Abras, embaixadora e jurada do Prêmio Dove Mulheres e embaixadora do Amigos do Bem, como consegue conciliar todas as demandas?
A chave está em saber o que realmente nos motiva e nos inspira. O Prêmio Dove Mulheres, por exemplo, me proporciona a oportunidade de aprender com histórias incríveis de mulheres que brilham em um mercado ainda predominantemente masculino. E nos Amigos do Bem, a experiência nos ensina a olhar para o outro e, ao fazer isso, conseguimos olhar para nós mesmos de uma forma mais completa e transformadora. É um projeto incrível que transforma milhares de vidas no sertão nordestino e não só valoriza a cultura local, mas também fortalece a autoestima das mulheres envolvidas, gerando mudanças reais na vida delas e na vida da comunidade. Essas experiências me desafiaram a aplicar esses princípios de inclusão e sustentabilidade em todos os meus projetos, principalmente no meu trabalho com a Abras.
Quais os projetos e as novidades para 2025?
Este será um ano de grandes transformações e oportunidades para a Abras e para o varejo alimentar. Entramos em um novo ciclo de gestão, agora para o triênio 2025-2027, e vamos seguir investindo em parcerias estratégicas e em ações que gerem valor compartilhado. Este será o terceiro mandato do meu marido, João Galassi, e de sua Diretoria e Conselhos, e, ao longo dessa jornada, conseguimos fortalecer a presença feminina na nossa gestão. Quando começamos, a participação feminina representava apenas 7%; agora, no novo triênio, estamos celebrando 41% de mulheres na nossa Diretoria. Isso é uma grande conquista para nós e para o setor. Em março, a Abras recebe homenagem na Sessão Solene na Câmara dos Deputados, em Brasília, um reconhecimento do trabalho fundamental que realizamos na Reforma Tributária, especialmente com a criação da Cesta Básica Nacional. Em abril, a Caravana Abras, acompanhada por supermercadistas de todo o Brasil, conhecerá de perto o trabalho incrível do Projeto Amigos do Bem a fim de visitar as oficinas de costura, moda e artesanato, fábricas de castanhas e outros projetos que estão transformando vidas no sertão pernambucano.
O Prêmio Dove Mulheres tem na origem a história de sua sogra, Angelina Galassi. Por que devemos celebrar a trajetória feminina no varejo alimentar? E quais os desafios das mulheres no setor?
O prêmio tem um significado muito especial para mim, especialmente porque está profundamente ligado à história da minha sogra, Dona Angelina Galassi, que é uma enorme fonte de inspiração para todos nós. Celebrar a trajetória feminina no varejo alimentar é fundamental, pois, muitas vezes, as mulheres desempenham papéis essenciais, mas silenciosos, que são a base do nosso sucesso. Embora o setor esteja cada vez mais abraçando a presença feminina, ainda enfrentamos desafios importantes, como a busca por igualdade de oportunidades e o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. A jornada por uma verdadeira igualdade exige persistência e coragem. Mas acredito que, com o exemplo de mulheres como Dona Angelina e as inúmeras histórias inspiradoras compartilhadas no Prêmio Dove, conseguimos abrir portas e, mais importante, inspirar as futuras gerações a seguir seus sonhos com confiança e determinação.
Como o varejo alimentar pode contribuir para o impacto social e ambiental?
O varejo alimentar desempenha um papel essencial na construção de um futuro mais sustentável e socialmente responsável. E isso vai além de simplesmente oferecer um produto sustentável – ele conecta os consumidores com causas significativas e impactantes. Esse ponto foi destacado na última NRF, a maior feira de varejo do mundo, realizada em Nova York, onde a sustentabilidade foi um dos principais focos. Os consumidores estão cada vez mais exigentes, buscando marcas que, além de oferecerem produtos de qualidade, também demonstrem um real compromisso com o bem-estar social e ambiental. Além disso, a atuação do setor junto ao Poder Público é muito importante e tem defendido iniciativas vitais para combater o desperdício de alimentos, como a adoção do prazo de validade Best Before e o incentivo à doação de alimentos. Acreditamos que, ao apoiar projetos como esses e implementar práticas sustentáveis, estamos contribuindo para um mundo melhor e para a transformação social das comunidades ao nosso redor. O varejo alimentar tem o poder de ser um grande motor de mudança.
Qual a importância dessas ações para a sociedade e o varejista? Quais exemplos disso?
Essas ações têm o poder de transformar realidades e promover uma mudança significativa. A parceria da Abras com o projeto Amigos do Bem é um excelente exemplo disso. Temos apoiado a comercialização de sacolas reutilizáveis, produzidas por jovens e mulheres que participam das oficinas de artesanato do projeto. Já solicitamos mais de 50 mil unidades, que serão distribuídas em supermercados de todo o Brasil, e nossa meta este ano é chegar a 350 mil sacolas. Além disso, uma vitória recente que simboliza a importância da atuação do varejo alimentar no bem-estar social foi a conquista da Cesta Básica Nacional de Alimentos sem impostos, que a Abras ajudou a construir. Essa conquista representa um passo significativo para garantir que alimentos essenciais sejam mais acessíveis à população, sem onerar o orçamento das famílias. A criação da Cesta Básica Nacional é um reflexo do nosso compromisso em atuar de maneira responsável, não só com a sustentabilidade, mas também com a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros.
Quais são os maiores desafios que o varejo alimentar enfrenta atualmente?
Os maiores desafios para o varejo alimentar estão na capacidade de inovar constantemente, sem perder o foco no que realmente importa: oferecer qualidade ao consumidor e promover qualidade de vida para os brasileiros. Para superar esses desafios, é essencial estarmos atentos às mudanças no comportamento do consumidor, que hoje valoriza ainda mais a experiência de compra e a sustentabilidade. O setor precisa estar preparado para se adaptar rapidamente a qualquer mudança no mercado, sendo resiliente diante das crises econômicas que surgem. A adaptação às novas tecnologias e a conexão com a inteligência artificial, que contribuem também na transformação digital para o setor, são muito importantes. Além disso, um dos maiores pilares para o sucesso do setor é a inclusão e a valorização das mulheres no varejo. Cada vez mais, as mulheres têm se destacado como líderes, colaboradoras essenciais e como agentes de transformação no setor. Elas representam uma força poderosa essencial para o varejo alimentar. Estar alinhado com as questões de sustentabilidade e com a promoção da igualdade de oportunidades para todos é imprescindível.
Quais são as tuas referências no setor supermercadista?
Minhas principais referências no setor supermercadista são, sem dúvida, pessoas que têm um papel fundamental na minha trajetória e que me inspiram a cada dia. Em primeiro lugar, minha sogra, Dona Angelina Galassi, que é um exemplo de perseverança e uma fonte constante de aprendizado para todos nós. Meu marido, João Galassi, é uma referência fundamental para mim. Sua energia incansável e a forma como ele transforma seu trabalho em uma verdadeira missão de vida, com o propósito de melhorar a vida das famílias brasileiras, me motivam todos os dias. Assim como outras grandes mulheres vencedoras do Prêmio Dove, Dona Hiltrudes Pereira, ou D. Trude, como era carinhosamente chamada, continua a me inspirar até hoje. Sua liderança, gentileza e determinação são exemplos que perduram. Outro grande nome que também me inspira é Reni Rosa Muffato, que, à frente do Grupo Muffato, nos ensina, a cada dia, o verdadeiro significado de resiliência e liderança humana.Também não posso deixar de mencionar o Abílio Diniz, que infelizmente nos deixou em fevereiro do ano passado. Abílio foi um visionário e elevou o nível do varejo alimentar brasileiro a patamares de excelência.
Quais as intempéries e as alegrias de trabalhar em uma empresa familiar?
Para mim, é uma grande alegria poder acompanhar e apoiar o trabalho da minha família. Embora minha atuação não seja diretamente no dia a dia dos negócios, sinto-me profundamente conectada a tudo o que fazemos, e sou grata por poder contribuir, de alguma forma, para o legado que estamos construindo. Acredito que, mesmo diante de obstáculos, como as dificuldades impostas pela concorrência, o que sempre nos manteve firmes foi o trabalho em equipe, a dedicação e a união familiar.