Proteína Multiuso
Versátil, prático e nutritivo, o ovo é alimento proteico muito procurado, mas sofre com alta de preços no mercado brasileiro
O ovo é um dos alimentos mais presentes na dieta dos brasileiros, combinando acessibilidade, valor nutricional e versatilidade. Em 2023, o consumo per capita no Brasil atingiu 242 ovos por habitante, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), um aumento de 195% em relação a 1997, quando a média era de 82 unidades por ano. Para 2024, a projeção da ABPA foi de 260 ovos por pessoa, um crescimento de 7%, ainda a ser confirmado. Esse número coloca o Brasil acima da média mundial, que gira em 230 ovos por pessoa ao ano. 99% da produção vai para o mercado interno.
O Brasil é o quinto maior produtor de ovos do mundo, com uma produção recorde de 4,9 bilhões de dúzias em 2023. São Paulo lidera como o maior estado produtor, respondendo por 28,8% do total, seguido por Paraná (9,9%), Minas Gerais (8,6%), Rio Grande do Sul (7,6%) e Espírito Santo (6,9%). Entre os municípios, destacam-se Santa Maria de Jetibá (ES), Bastos (SP), Primavera do Leste (MT), São Bento do Una (PE) e Beberibe (CE). A gaúcha Naturovos, por exemplo, produz atualmente cerca de 3 milhões de ovos por dia. Com o investimento de R$ 33 milhões anunciado em 2024, a empresa planeja aumentar sua capacidade em 33%, passando a produzir 4 milhões de ovos por dia até o segundo semestre de 2025, com a instalação de dez novos aviários na unidade de Vacaria.
Tipos de Ovos
No mercado brasileiro, os ovos variam em tipo, tamanho e modo de produção. Ovo industrial (ou “de granja”), variedade mais vendida, é o ovo de galinhas de linhagens geneticamente melhoradas, criadas em gaiolas. Elas ganham alimentação balanceada, com ração à base de insumos como milho e soja transgênicos. O ambiente, a nutrição e a sanidade dessas aves são controlados.
O ovo caipira é colocado pela chamada galinha caipira, criada em aviário ou galinheiro, mas que tenha uma área aberta de pasto. A ração da galinha caipira não pode conter nenhum pigmento artificial e ela deve se alimentar também de verduras, ervas e legumes. A coloração avermelhada do ovo é determinada pela raça. A alimentação interfere na cor da gema.
O ovo orgânico provém de galinhas criadas de forma semelhante às caipiras, mas só alimentadas com insumos sem agrotóxicos ou transgênicos. É o único tipo de ovo de galinha que não pode receber medicamentos como antibióticos e promotores de crescimento. O conceito de orgânico também determina que a criação respeite o meio ambiente, sem causar danos ao solo, ar e outras culturas de produção.
Por fim, cabe mencionar ainda os ovos de codorna, menores (10-15g), ricos em nutrientes e usados em pratos gourmet ou como petiscos. São muito utilizados por bares e restaurantes, em petiscos e saladas.
Livres de gaiolas
Ovo “cage free”, variedade que vem ganhando atenção, é o ovo de galinhas industriais que não são criadas em gaiolas. Elas têm ninhos, poleiros, recebem uma alimentação balanceada e ficam em ambientes com luz controlada. O objetivo é promover um sistema de confinamento, mas que permita à ave expressar seu comportamento natural, com espaço para ciscar, por exemplo.
Recentemente, a M. Dias Branco, dona das marcas Isabela e Adria, anunciou que está utilizando desde outubro apenas ovos de galinhas livres (cage-free) na produção nacional de seus alimentos. A companhia assinou o Compromisso Cage-free em 2019 em parceria com a Mercy For Animals – instituição internacional que promove o bem-estar animal –, estabelecendo que iria utilizar apenas ovos de galinhas livres até dezembro de 2025. “Foi um trabalho árduo, que envolveu mapeamento e desenvolvimento de novos fornecedores, análise de formulação de produtos que levam ovos e elaboração de contratos de longo prazo”, explica Gabriela Moura Moraes, gerente corporativo de Suprimentos da M. Dias Branco. A proporção do tamanho desse mercado versus o do ovo tradicional ainda é pequena, representa cerca de 2% a 4% da quantidade de ovos consumidos no Brasil.
Dados Nutricionais
Um ovo médio (50g) é um “pacotinho” de nutrientes: 74 calorias, 6,3g de proteína (12% do peso), 5g de gordura (majoritariamente saudável), 1mg de ferro, 28mg de cálcio, 260 UI de vitamina A, além de vitaminas D, E e B12. Rico em colina, essencial para o cérebro, o ovo é o segundo alimento mais completo para humanos, atrás apenas do leite materno. Estudos recentes derrubaram o mito do colesterol, mostrando que o consumo moderado (1-2 por dia) é seguro para a maioria das pessoas.
Versatilidade na Culinária
O ovo é um curinga na cozinha brasileira. Vai do café da manhã, em omeletes e ovos mexidos, a receitas sofisticadas como quiches, bolos e sobremesas como o pudim. Sua capacidade de emulsionar (maionese), espessar (cremes) e dar estrutura (massas) o torna indispensável. Na culinária regional, aparece em pratos como o virado paulista e a tapioca nordestina, mostrando sua adaptabilidade a diferentes paladares. Os doces de Pelotas, inspirados na cozinha portuguesa, comumente utilizam ovos em sua composição.
Aumento do preço
O preço dos ovos tem sido um tópico quente em 2025. Entre janeiro e fevereiro, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP) registrou uma alta de 45% no valor do produto, reflexo de fatores sazonais e o aumento dos custos de produção – com o milho, principal insumo da ração, subindo 30%. As exportações, que cresceram 38,2% nos dois primeiros meses do ano (4,8 mil toneladas), também pressionam o mercado interno, embora representem apenas 1% da produção total.
Em março, a alta foi de 13,13%, segundo dados do IPCA. Embora a produção nacional tenha alcançado um recorde em 2024, com crescimento de 10% em relação ao ano anterior, o aumento dos preços não foi contido. No quarto trimestre, a produção chegou a 1,2 bilhão de dúzias, o maior volume trimestral da série histórica do IBGE. Ainda assim, o impacto dos custos, somado ao aumento das exportações, sustenta a tendência de encarecimento.
A portaria Nº 1.179 do Ministério da Agricultura e Pecuária determinou ainda que desde março os ovos vendidos em mercados devem ser carimbados com data de validade e o número de registros do estabelecimento produtor em suas cascas. A tinta para a marcação da mercadoria deve ser própria para alimento e não pode contaminar o produto.